A indústria brasileira de calçados identificou o crescimento de um grupo muito particular de consumidores e decidiu criar uma linha de produtos só para eles: uma linha vegana.
Sapatos iguais aos outros com uma diferença de DNA: foram feitos sem matéria-prima animal, dando preferência para materiais reciclados. O calçado vegano não tem nada de couro. Por cima, imitação sintética ou tecido natural de algodão. Por baixo, sola de borracha crua ou de placas prensadas nos modelos mais finos. A palmilha, de espuma e cortiça. Mesmo nos detalhes, nada de couro.
Para atender à onda vegana, uma fábrica em Franca, no interior paulista, decidiu ir contra a vocação da cidade, famosa pelos produtos de couro. Investindo na moda sustentável, o negócio cresce quase 100% ao ano.
Quando começou, há cinco anos, a indústria produzia cem pares de sapato. Agora são 1.500. Em 2017, o número de funcionários dobrou. A maior parte da produção é exportada para 11 países da Europa, para Austrália e para os Estados Unidos. Mas o mercado que mais cresce é o brasileiro.
“No exterior, o mercado já é mais maduro, já existe mais há alguns anos do que no Brasil. Aqui, apesar de a gente ter milhões de consumidores que se consideram veganos ou vegetarianos, o consumo de produtos secundários, como calçado, ainda é muito crescente”, afirma Gabriel Silva, dono da empresa.
Outra fábrica que só vende para o mercado interno foi buscar materiais alternativos: além de tecido vegetal, borracha de câmera de ar e lona de caminhoneiro, trabalha com uma malha nova, mistura de plásticos e panos reciclados.
“Temos aqui por exemplo, uma lona com alto teor de pet. Ela tem 30% de pet e o restante, os outros 70%, são de rejeitos de indústria têxtil”, disse Rosana Pedroso Barbosa, sócia da empresa.
O resultado são calçados, cintos e bolsas muito procurados.
“Quem compra esse produto não é apenas o vegano, mas toda aquela pessoa que tem a preocupação com a origem do produto, de onde veio a matéria-prima, se é uma matéria-prima sustentável, se aquilo agride ou não o meio ambiente”, explicou Rosemir Folhas, também sócio da empresa.
Gabriela é vegetariana e diz que já teve dificuldade para adequar a moda ao estilo de vida. Não tem mais.
“Sinceramente, eu não vejo diferença na qualidade nem na durabilidade dos produtos. Eu vejo diferença na procedência dos materiais. Hoje em dia a gente encontra produtos maravilhoso no mercado que não precisam ter origem animal”, diz a redatora Gabriela Tumbiolo.