Revista divulga áudios com troca de mensagens entre Bolsonaro e ministro demitido Bebianno

  Quarta, 20 de fevereiro de 2019
  Jornal Nacional    |      
Revista divulga áudios com troca de mensagens entre Bolsonaro e ministro demitido Bebianno

    Na semana passada, o então ministro Gustavo Bebianno afirmou que havia falado três vezes com Jair Bolsonaro no último dia 12. No dia seguinte, Carlos Bolsonaro, filho do presidente, disse que isso era 'mentira absoluta'. Áudios agora divulgados mostram 3 mensagens por WhatsApp entre ex-ministro e o presidente.

    A revista “Veja” publicou nesta terça-feira (19) na internet mensagens de áudio trocadas entre o presidente Jair Bolsonaro e o então ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, no dia 12 de fevereiro. Naquela terça-feira, havia rumores de que Bebianno seria exonerado em consequência de reportagens do jornal “Folha de S.Paulo” sobre candidaturas laranja do PSL, num período em que ele presidiu o partido.

    Para desmentir aqueles rumores de demissão, Bebianno afirmou ao jornal “O Globo” que tinha falado três vezes com Bolsonaro naquele dia por mensagem de WhatsApp. Mas, em seguida, o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente, foi às redes sociais e chamou Bebianno de mentiroso. Disse que essas conversas não tinham existido. E o próprio presidente também desmentiu Bebianno. Mas os áudios divulgados pela “Veja”” mostram que o então ministro de fato trocou mensagens de WhatsApp com o presidente.

    A primeira mensagem enviada por Bolsonaro a Bebianno na terça-feira (12), segundo a revista “Veja”, continha a agenda pública do ministro, que registrava a visita que receberia do vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo, Paulo Tonet Camargo, às 16h. Segundo a revista “Veja”, ao receber mensagem do presidente, Bebianno respondeu de imediato. “Algo contra, capitão?”. É assim que Bebianno se dirigia ao presidente: pela patente militar de capitão.

    A revista “Veja” diz que Bebianno insistiu, enviando algumas mensagens por escrito; que, em resposta, Bolsonaro enviou um áudio em que declara que a Globo é uma inimiga e que, ao fazer contatos com a emissora, Bebianno o colocaria em posição delicada com as outras emissoras.

    Este é o texto do áudio:

    Bolsonaro: Gustavo, o que eu acho desse cara da Globo dentro do Palácio do Planalto: eu não quero ele aí dentro. Qual a mensagem que vai dar para as outras emissoras? Que nós estamos (se) aproximando da Globo. Então não dá para ter esse tipo de relacionamento. Agora, inimigo passivo, sim. Agora, trazer o inimigo para dentro de casa é outra história. Pô, você tem que ter essa visão, pelo amor de Deus, cara. Fica complicado a gente ter um relacionamento legal dessa forma porque você está trazendo o maior cara que me ferrou - antes, durante, agora e após a campanha - para dentro de casa. Me desculpa. Como presidente da República: cancela, não quero esse cara aí dentro, ponto final. Um abraço aí.

    Grupo Globo divulga nota

    Em relação a estas afirmações do presidente Jair Bolsonaro, o Grupo Globo divulgou a seguinte nota.

    “O Grupo Globo considera que não tem nem cultiva inimigos. A própria natureza de sua atividade jamais permitiria qualquer postura em contrário. Hoje, como sempre, sua missão é levar ao público jornalismo independente - dando transparência a tudo o que é relevante para o país - e entretenimento de qualidade.

    “O Grupo Globo continuará a trabalhar nesta mesma direção.

    “A visita de Paulo Tonet Camargo, vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo, ao então ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, constava da agenda pública do ministro, divulgada na internet.

    “Visitas de diretores do Grupo Globo a autoridades dos diferentes poderes, servidores públicos, executivos de empresas e representantes da sociedade civil são rotineiras e, nesse aspecto, o Grupo Globo não se diferencia de qualquer grupo empresarial que pretenda ouvir todas as vozes de uma sociedade livre, de forma transparente e com agenda pública, mantendo relações estritamente institucionais e republicanas”.

    Viagem à Amazônia

    Segundo a revista “Veja”, em outro momento, Bebianno envia ao presidente uma nota publicada pelo site O Antagonista sobre uma viagem à Amazônia que ele próprio faria, acompanhado pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e pela ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves. Bolsonaro então pergunta em mensagem de áudio quem seria o cabeça dessa viagem.

    Bolsonaro: Gustavo, uma pergunta: “Jair Bolsonaro decidiu enviar para a Amazônia”? Não tô entendendo. Quem tá patrocinando essa ida para a Amazônia? Quem tá sendo o cabeça dessa viagem à Amazônia? Um abraço aí, Gustavo, até mais.

    Bolsonaro determina no áudio seguinte o cancelamento dessa viagem dos ministros à Amazônia.

    Bolsonaro: Ô, Bebianno, essa missão não vai ser realizada. Conversei com o Ricardo Salles. Ele estava chateado que tinha muita coisa para fazer e está entendendo como missão minha. Conversei com a Damares. A mesma coisa. Agora, eu não quero que vocês viajem porque vocês criam a expectativa de uma obra. Daí vai ficar o povo todo me cobrando. Isso pode ser feito quando nós acharmos que vai ter recurso, o orçamento é nosso, vai ser aprovado etc. Então essa viagem não se realizará, tá ok? Um abraço aí, Gustavo.

    Sem perseguição

    Já no dia seguinte, após ter sido chamado de mentiroso por ter dito que conversou com presidente por três vezes, Bebianno envia a Bolsonaro uma mensagem de um jornalista segundo a qual Carlos Bolsonaro vinha conversando com deputados para derrubá-lo. A revista não divulgou a íntegra da mensagem nem deu mais detalhes sobre ela. O presidente reage negando que o filho estivesse incitando a demissão e afirma que Carlos está certo em dizer que eles não se falaram no dia anterior.

    Bolsonaro: O caso incitando a saída é mais uma mentira. Você conhece muito bem a imprensa, melhor do que eu. Agora, você não falou comigo nenhuma vez no dia de ontem. Ele esteve comigo 24 horas por dia. Então não está mentindo nada nem está perseguindo ninguém.

    Em resposta, Bebianno se explica. Sempre se dirigindo a Bolsonaro como “capitão”, reclama do que chama de agressões do filho do presidente.

    Bebianno: Capitão, há várias formas de se falar. Nós trocamos mensagens ontem três vezes ao longo do dia, capitão. Falamos da questão do institucional do Globo. Falamos da questão da viagem. Falamos por escrito, capitão. Qual a relevância disso, capitão? Capitão, as coisas precisam ser analisadas de outra forma. Tira isso do lado pessoal. Ele não pode atacar um ministro dessa forma. Nem a mim nem a ninguém, capitão. Isso está errado. Por que esse ódio? Qual a relevância disso? Vir a público me chamar de mentiroso? Eu só fiz o bem, capitão. Eu só fiz o bem até aqui. Eu só estive do seu lado, o senhor sabe disso. Será que o senhor vai permitir que eu seja agredido dessa forma? Isso não está certo, não, capitão. Desculpe.

    Pacificador

    Bebianno continua sua defesa em outro áudio enviado ao presidente. Diz que se considera um pacificador que conquistou a confiança dos generais que fazem parte do governo.

    Bebianno: Capitão, eu só prego a paz, o tempo inteiro. O tempo inteiro eu peço para a gente parar de bater nas pessoas. O tempo inteiro eu tento estabelecer uma boa relação com todo mundo. Minha relação é maravilhosa com todos os generais. O senhor se lembra que, no início, eu não podia participar daquelas reuniões de quartas-feiras porque os generais teriam restrições contra mim? Eu não entendia que restrições eram aquelas se eles nem me conheciam. O senhor hoje pergunte para eles qual o conceito que eles têm a meu respeito, sabe, capitão? Eu sou uma pessoa limpa, correta. Infelizmente não sou eu que faço esse rebuliço, que crio essa crise. Eu não falo nada em público. Muito menos agrido ninguém em público, sabe, capitão? Então quando eu recebo esse tipo de coisa, depois de um post desse, é realmente muito desagradável. Inverta, capitão. Imagine se eu chamasse alguém de mentiroso em público. Eu não sou mentiroso. Ontem eu falei com o senhor três vezes, sim. Falamos pelo WhatsApp. O que é que tem demais? Não falamos nada demais. A relevância disso… tanto assunto grave para a gente tratar. Tantos problemas. Eu tento proteger o senhor o tempo inteiro. Por esse tipo de ataque? Por que esse ódio? O que é que eu fiz de errado, meu Deus?

    Nota plantada

    Na mensagem seguinte, Bolsonaro insiste que trocar mensagens por WhatsApp não é para ele o mesmo que conversar, justificando assim por que considerou mentirosa a afirmação de Bebianno de que havia conversado com ele no dia anterior. O presidente reclama de notas que Bebianno teria passado para o site O Antagonista.

    Bolsonaro: Ô, Gustavo, usar da… que usou do WhatsApp para falar três vezes comigo, aí é demais da tua parte, aí é demais, e eu não vou mais responder a você. Outra coisa, eu sei que você manda lá no Antagonista, a nota foi pregada lá. Dias antes, você pregou uma nota que tentou falar comigo e não conseguiu no domingo. Eu sabia qual era a intenção, era exatamente dizer que conversou comigo e que está tudo muito bem, então, faz o favor, ou você restabelece a verdade ou não tem conversa a partir daqui pra frente.

     

    Candidata laranja

    Bolsonaro também reclama que Bebianno estaria tentando responsabilizá-lo pelo dinheiro repassado pelo partido deles, o PSL, a uma candidata laranja em Pernambuco. Diz que a Polícia Federal vai apurar este caso e que “quem deve irá pagar”.

    Bolsonaro: Querer empurrar essa batata quente desse dinheiro lá pra candidata em Pernambuco pro meu colo, aí não vai dar certo. Aí é desonestidade e falta de caráter. Agora, todas as notas pregadas nesse sentido foram nesse sentido exatamente, então a Polícia Federal vai entrar no circuito, já entrou no circuito, pra apurar a verdade. Tudo bem, vamos ver daí. Quem deve paga, tá certo? Eu sei que você é dessa linha minha aí. Um abraço.

    'Não plantei nada’

    Em outra mensagem para o presidente, Bebianno negou ter passado a nota sobre o assunto das candidaturas laranja para a imprensa.

    Bebianno: Capitão, a nota do Antagonista que o senhor está me acusando de ter plantado, se o senhor olhar bem, eu localizei aqui e mandei pro senhor. Eu não plantei nada. Ela replica o que a “Folha” falou. Está escrito aqui: “Segundo a ‘Folha”, segundo a ‘Folha’, o ministro Gustavo Bebianno tentou ligar para Jair Bolsonaro neste domingo para explicar o caso, mas o presidente não atendeu”. Quem mencionou isso não foi o Antagonista, foi a ‘Folha’. O Antagonista simplesmente replicou. Então, capitão, eu não plantei nada em lugar nenhum, tá? Abraço.

    O presidente retrucou dizendo que, se a conversa era só entre eles dois e não foi ele, Bolsonaro, quem passou a nota para a imprensa, então só poderia ter sido Bebianno.

    Bolsonaro: Bebianno, olha como você entra em contradição. Que seja a “Folha”. Se foi uma tentativa tua pra mim e eu não atendi… eu não liguei pra “Folha”, eu não ligo pra imprensa nenhuma. Quem ligou foi você, quem vazou foi você. Dá pra você entender o caminho que você está indo? E você tem que fazer uma reflexão para voltar à normalidade. Deu pra entender? Vou repetir: se você tentou falar comigo, um pra um, se alguém vazou pra “Folha”, não fui eu, só pode ser você, tá ok?

     

    Bebianno se explica uma vez mais e reitera que não passou nada para a imprensa.

    Bebianno: Não, capitão, não é isso, não. Eu não tentei ligar pro senhor, eu não falei, não vazei nada pra ninguém. Eu nem tentei ligar pro senhor. O senhor mandou um recado que era pra eu não ir ao hospital. Não fui e não liguei pro senhor nenhuma vez. Deixei o senhor em paz. Se eu tentei ligar uma ou duas vezes, também não me lembro pelo motivo que foi, não é isso, não, capitão, tá? Eu não vazei nada pra lugar nenhum, muito menos pra Folha, com quem eu praticamente não falo. Abraço, capitão.

    'Envenenado’

    No último áudio da conversa divulgada pela revista “Veja”, Bebianno explica seu papel na distribuição de verbas do partido. Diz que o presidente nacional não é responsável pelas chapas estaduais e que, no caso de Pernambuco, o responsável é Luciano Bivar, atual presidente do PSL.

    Bebianno: Em relação a isso, capitão, também acho que a coisa não está clara. A minha tarefa como presidente interino nacional foi cuidar da sua campanha. A prestação de contas que me competia foi aprovada com louvor, agora, cada estado fez a sua chapa. Em nenhum partido, capitão, a nacional é responsável pelas chapas estaduais. O senhor sabe disso melhor do que eu. E, no nosso caso, quando eu assumi o PSL, houve uma grande dificuldade na escolha dos presidentes de cada estado, porque nós não sabíamos quem era quem. Cada chapa foi montada pela sua estadual. No caso de Pernambuco, pelo Bivar, logicamente. Se o Bivar escolheu candidata laranja, é um problema dele, político. E é um problema legal dela explicar o que ela fez com o dinheiro. Da minha parte, eu só repassei o dinheiro que me foi solicitado por escrito. Eu tenho tudo registrado por escrito. Então é ótimo que a Polícia Federal esteja, é ótimo que investigue, é ótimo que apure, é ótimo que puna os responsáveis. Eu não tenho nada a ver com isso. Depois a gente conversa pessoalmente, capitão, tá? Eu tô vendo que o senhor está bem envenenado. Mas, tudo bem, a minha consciência está tranquila, o meu papel foi limpo, continua sendo. E tomara que a polícia chegue mesmo à constatação do que foi feito, mas eu não tenho nada a ver com isso. O Luciano Bivar que é responsável lá pela chapa dele. Abraço, capitão.

    Bivar responde

    O deputado Luciano Bivar, presidente do PSL, declarou que está estupefato e que considera que a fala de Gustavo Bebianno se deve ao desespero do ex-ministro.

    Admiração por Bolsonaro

    Em entrevista à rádio Jovem Pan, na noite desta terça-feira (19), o ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência Gustavo Bebianno falou sobre o caso. Disse que mantém a admiração pelo presidente Jair Bolsonaro, que considera que foi demitido pelo filho dele, Carlos Bolsonaro, e explicou que sempre buscou ter uma boa relação com a imprensa para que isso pudesse ser convertido em coisas positivas para o presidente.

    O Antagonista responde

    Sobre a declaração do presidente de que Gustavo Bebianno mandaria no site O Antagonista, o site divulgou nota afirmando que ninguém manda em O Antagonista. A nota diz ainda que em quatro anos de existência o site já foi alvo de difamação de petistas e partidários de Michel Temer e agora é atacado por bolsonaristas. O site acrescenta que a campanha difamatória não impedirá O Antagonista de continuar a fazer seu trabalho e manter seu compromisso apenas com os leitores

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