Brasileira no epicentro do surto de coronavírus tenta deixar a China.

  Quarta, 29 de janeiro de 2020
  G1    |      
Brasileira no epicentro do surto de coronavírus tenta deixar a China.

    Indira Mara Santos, 34 anos, está em contato constante com outros brasileiros ilhados em epicentro de surgimento do coronavírus: 'Com quem a gente pode contar?'.

    A brasileira Indira Mara Santos, de 34 anos, tentou sair imediatamente de Wuhan, epicentro do surto do coronavírus na China, quando soube que a cidade seria fechada para conter a expansão da doença para outras partes do território chinês e do mundo.

    Estudante de doutorado da Universidade de Huazhong, ela deixou seu quarto no campus universitário às pressas para tentar chegar ao aeroporto, rumo a Xangai.

    "Mas quando cheguei ao metrô, já estava fechado", conta a acadêmica, que estuda economia.Indira ainda tentou parar alguns poucos táxis que circulavam pelas ruas, porém, os motoristas se negavam a transportar qualquer passageiro.

    "Bateu um momento de pânico e pensei imediatamente nos meus pais", relata em entrevista telefônica à BBC News Brasil.Logo que percebeu o agravamento da crise, Indira comprou uma passagem de volta para casa. Seus planos eram viajar de Wuhan a Xangai e de lá embarcar rumo ao Brasil para tranquilizar a família que mora no Maranhão. Mas não houve tempo: "Meus pais ficaram arrasados e eu, mais ainda".

    No dia 23 de janeiro, o governo chinês ordenou o fechamento da cidade de Wuhan, capital da província de Hubei, onde os primeiros casos da doença surgiram. A entrada e a saída de pessoas foram proibidas e o transporte público e aéreo foi suspenso.

    A emergência entrou em vigor às vésperas do Ano Novo chinês, feriado que é responsável pelo maior movimento de pessoas dentro da China e no mundo. A demora do governo em fechar a cidade permitiu que quase a metade da população, 5 milhões de pessoas, deixasse a cidade antes do confinamento, facilitando a rápida expansão do vírus para outras províncias chinesas e para países vizinhos. O prefeito de Wuhan, Zhou Xianwang, admitiu ter falhado em dar respostas e informações quando os primeiros casos da doença apareceram e colocou o cargo à disposição.

    "Um dia estava tudo bem, no outro, estávamos na quarentena", afirma Indira.

    Desde então, ela está confinada em seu quarto no campus da universidade, que assim como a cidade, está deserta.

    "A gente tenta ocupar a cabeça para não focar no fato de que estamos trancados dentro de casa e que tem um vírus lá fora. Tento fazer que meu dia seja produtivo de alguma forma, lendo e estudando, mas é difícil", afirma.

    A acadêmica estava na Europa na primeira semana de janeiro quando leu as primeiras notícias sobre casos de contaminação por uma nova sepa do coronavírus — similar ao Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave) que apareceu em Guangdong, na China, em 2002. Indira conta que as autoridades locais negaram as informações e usaram a TV oficial para informar sobre a difusão de "fake news". Ela também não deu muita importância. Porém, quando voltou à China, recebeu mensagens de seus pais, assustados com as notícias que recebiam no Brasil sobre a expansão do vírus.

    "Eu via que os chineses não estavam usando máscaras e que ficavam chateados, como se nós estrangeiros estivéssemos ofendendo eles ao usar máscaras", afirma.
     
    Pouco depois, o que antes era símbolo de ofensa passou a ser obrigatório. O governo deu ordens para que todos usassem máscaras aos saírem de suas casas. Em seguida, a cidade seria fechada. Nela, estão confinados cerca de 30 brasileiros, entre eles seis crianças, dos quais Indira se tornou uma espécie de representante para dialogar com a embaixada brasileira.
    "Meu Deus, queremos sair do perigo antes que seja tarde. Por enquanto está todo mundo bem, mas quanto mais tempo você fica, mais exposto fica ao perigo."O governo chinês pede que a população saia de suas casas somente em caso de extrema necessidade. Indira tenta comprar o máximo de alimentos e água possíveis para evitar se expor. Quando sai, é barrada por um agente da universidade que mede a temperatura dos estudantes que circulam pelo campus. O hospital universitário, porém, está cheio e o acesso à área é restrito aos casos de emergências.
     
    "A orientação é de ir ao hospital somente em caso de urgência porque o risco de contaminação é alto", conta.

    Apesar da tensão, o clima na cidade é de cooperação. A população segue à risca as orientações do governo, segundo Indira. Na terça-feira, os moradores organizaram uma manifestação da janelas de suas casas.

    "Cantaram o hino chinês e gritaram 'força Wuhan'", conta.

    Para sair de casa, Indira usa máscaras, luvas e tem redobrado o cuidado com a higiene das mãos.

    "Existe uma tensão natural com a situação. Quando saio, me preocupo; será que coloquei a máscara direito? Será que tá tudo ok? Se tenho que tirar a luva, fico preocupada em lavar as mãos, (a situação) cria uma paranoia", relata.

    Ela diz que os supermercados dentro e fora do campus universitário são bem abastecidos — e acompanha a rotina dos supermercados por meio do chat que mantém com os outros brasileiros.

    "A preocupação é 'até quando?'. Não sabemos quanto tempo vai durar, como o governo vai lidar com ao abastecimento dessa e das outras cidades?".

    Com a paralisação do transporte público, o fechamento das pontes, e a proibição do uso de automóveis, a 42ª maior cidade do mundo se vê desabitada.

    "Está todo mundo trancado em casa, o movimento nas ruas é mínimo".

    A estudante conversava com a reportagem quando recebeu uma mensagem do grupo de brasileiros que estão ilhados na cidade alertando sobre a reação do presidente Jair Bolsonaro. O grupo pede ajuda ao Itamaraty para poder deixar o país.

    "Pelo que parece, tem uma família na região onde o vírus está atuando", afirmou o presidente em Brasília. "Não seria oportuno a gente tirar de lá, com todo o respeito. Pelo contrário, agora não vamos colocar em risco nós aqui por uma família apenas."

    Indira, que mantém contato com a Embaixada brasileira em Pequim, disse que a reação do presidente é "desoladora".

    "Mesmo que fosse somente uma família, estamos falando de vidas, de seres humanos", afirma". "É um descaso muito grande e um sentimento de que não podemos contar nem com o nosso governo, nem com o nosso país (…) então com quem a gente pode contar?".

    Indira admite ter medo e espera ir ao Brasil o quanto antes.

    "O medo existe porque não sabemos 100% do que está acontecendo. Então minha preocupação é que da noite para o dia aconteça alguma coisa", afirma.

    Até esta quarta de manhã, foram confirmados 5.974 casos de pessoas infectadas e 132 mortes.

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