Para ela, o contato diário de pais e responsáveis com a aprendizagem dos filhos durante as aulas remotas na pandemia não melhoraram totalmente a visão da sociedade sobre a profissão.
"Tem gente dizendo que o professor ganha sem trabalhar na pandemia. Mas estamos trabalhando bem mais do que na sala de aula porque o trabalho dobrou. Tem a questão dos vídeos, tem que editar, elaborar atividades, corrigir, tirar dúvida", elenca.
Alfabetizado na pandemia
Gabriel Soares, de 5 anos, aprendeu a ler durante as aulas a distância na pandemia.
A professora investiu em atividades lúdicas pela internet e mais acolhimento. A evolução de Gabriel ocorreu em três meses, depois que ele saiu de uma escola particular, em Teresina e foi para a rede pública municipal, em julho.
“Aprendi o fa, fe, fi, fo, fam!”, fala Gabriel, sorrindo, animado com os passos dados. “Acho ela o máximo, muito carinhosa comigo, aprendi um monte de coisa que não sabia”, comemora.
“Agora, em setembro, ele foi fazer uma leitura da letra V e fez certinho, todos ficaram impressionados. Ele ficou todo empolgado”, conta Carla Soares, mãe de Gabriel.
"No passado a cartilha tinha frases prontas. 'O boi bebe'. Bebe o quê? Eram frases sem sentido. Só para trabalhar a letra B. Agora, a gente usa relacionado com aquela temática do dia a dia da criança. Podemos trabalhar os brinquedos que começam com a letra B: boneca, bola."
Christiane precisou vencer a timidez para dar aulas remotas. Cada gravação de vídeo era, para ela, uma dificuldade. “Antes, não gravava nem mensagem de voz. Com a pandemia, tive que aprender na prática, aos trancos e barrancos”, brinca.
A pesquisa “Trabalho Docente em Tempos de Pandemia”, feita pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) aponta que quase 90% dos professores não tinham treinamento para dar aulas remotas antes da pandemia. Na educação infantil, somente 9% dos docentes disseram ter preparação para as aulas virtuais.
“Agora aprendi a usar alguns aplicativos que ajudam a tornar a aula mais dinâmica, como por exemplo, os que ajudam a editar imagem, colocar plano de fundo. Com isso, a atividade fica mais lúdica para a criança”, afirma.
O volume de trabalho também mudou. Além de corrigir atividades e preparar a aula, agora é preciso gravar e editar vídeos, interagir com os pais, e ajudá-los a acompanhar as crianças.
"Quando estou ensinando, eu me dedico ao máximo. Mesmo se estiver com algum problema, quando entro na sala de aula, esqueço todos eles e faço meu trabalho da melhor forma possível. A gente ensina, mas também aprende muito com as crianças", relata.
A desvalorização - tanto salarial quanto de imagem na sociedade brasileira - é um ponto de incômodo.
"Quando vejo a fala de alguém dizendo que os professores estão todos em casa, vejo a questão da desvalorização do professor. Você não vai chegar na sala de aula, virtual ou não, sem saber o que fazer", diz.
O Plano Nacional de Educação (PNE) tem entre suas metas igualar o salário médio dos professores da educação básica à renda de outros profissionais com a mesma escolaridade até 2020. Diferença só diminui porque as outras funções sofreram desvalorização salarial no último ano.
Futuro da profissão
Para a educadora, a pandemia poderá mudar a rotina da profissão, acrescentando ferramentas que antes não eram difundidas.
Mas isso não vai substituir o professor que, para ela segue sendo essencial.
“A gente fala com colegas de profissão sobre a falta que faz o [ensino] presencial, o contato com o aluno. Nós poderemos adaptar, acrescentar uma ferramenta a mais, mas a tecnologia nunca irá nos substituir”, afirma.